Nessa semana, estava ouvindo a música Another Brick in the Wall (parte 1,2,3,... n!) e me lembrei daquele clipe que era (ou ainda é) o meu sonho e o de muitos colegas meus na época do ensino médio: agredir o meu professor e incendiar a escola... O professor caxias do clipe parece muito com alguns professores que tive no colégio e outros que tenho na universidade. Claro que tive ótimos professores também, mas os piores me marcaram mais profundamente: são um grande exemplo daquilo que eu não quero ser como professora de Química.
Assistindo o clipe recentemente, percebi que o colégio retratado era escuro, aparentemente úmido e pouco acolhedor. Vi também que a relação entre o professor e os alunos era digna de um filme de terror. Pensei comigo: "conheço uns trezentos colégios parecidos com esse..." e realmente: Quantos colégios em Salvador não apresentam infraestrutura mínima para um bom funcionamento? Quantos alunos são diariamente massacrados por seus professores (e vice-versa)? Quantos professores ainda pensam que ensinar é transmitir conteúdos e encaram seus alunos como folhas de papel em branco?
Acho que a melhor resposta para tais perguntas é "muitos". Comentar sobre a situação da educação brasileira seria um trabalho árduo e ingrato: me levaria a um campo de discussão tão complexo que seria infinitamente complicado de se discutir e infinitamente chato de se ler. Mas isso não significa que eu não possa comentar sobre algumas das colunas dos problemas na educação.
Recentemente tive a oportunidade de trabalhar em um colégio público estadual. Uma amiga minha me perguntou se algo havia me frustrado durante essa experiência. Disse que sim: os professores que já trabalhavam no colégio. Eu sabia que ia encontrar professores desiludidos com a profissão devido a falência do sistema educacional. Sabia que iria encontrar gente descompromissada com a educação, que encara a docência como uma atividade menor (em bom baianês, professores mangueados). Não foi nada disso que me frustrou. O que me decepcionou foi o completo abismo entre os professores e a pesquisa na área de Ensino.
Tudo bem caro leitor ou leitora, você pode argumentar que muitos desses professores estavam afastados há anos da universidade e que as pesquisas em ensino durante a formação docente é algo relativamente novo. Ok, concordo. Mas o fato que me decepcionou é que professores tão jovens quanto eu estão saindo das universidades com idéias sobre o ensino e a educação tão retrógadas que fazem a minha avó parecer uma revolucionária...
Conclui-se então que há um problema na formação desses professores. Não me espantaria se eu encontrasse um curso de licenciatura na UFBA ainda nos moldes do"3+1": um tipo de currículo no qual as disciplinas específicas e as matérias da faculdade de educação são cursadas de forma desarticulada, o que implica numa idéia deturpada de que para ensinar basta que o sujeito saiba o conteúdo específico da sua disciplina e saiba um pouco de técnicas de ensino.
Eu acredito que um bom professor é resultado, dentre muitos fatores, de uma boa formação. Formação esta que deve abranger e articular todos os tipos de conhecimento necessários para a prática docente, inclusive a pesquisa na área educacional.
Mas eis que surge outro problema: apesar de ter me aproximado há pouco tempo da pesquisa em Ensino de Química, eu posso afirmar o quanto o conhecimento produzido na área de Educação fica preso nos muros da universidade.Será que o confronto com a realidade é mortal para algumas de nossas teorias complexas? Talvez... ou então existem outros obstáculos entre a escola real e a escola das minhas especulações nas aulas de didática. Certamente tais obstáculos existem, e prometo em outro momento escrever quanto a essas barreirras invisíveis ou não.
Mas enquanto isso, curtam Another Brick in the Wall, do Pink Floyd clicando aqui.
Até mais!